SÃO PAULO, SP, 3 de março (Folhapress) - Tropas pró-Rússia tomaram hoje o controle de um terminal de balsas que liga a Ucrânia com a Rússia em Kerch no leste da Crimeia, intensificando os temores de que Moscou vai enviar ainda mais tropas para a região estratégica do Mar Negro.
O primeiro-ministro da Ucrânia, Arseni Yatseniuk, pediu ao Ocidente apoio político e econômico e disse que a Crimeia vai continuar a ser parte do país, mas admitiu que há possibilidade de ações militares.
Os soldados, que falavam russo, passaram a operar o terminal que serve como ponto de partida para Rússia. Um funcionário do governo americano que preferiu não se identificar disse à agência Associated Press que os EUA acreditam que a Rússia já tenha controle sobre a Crimeia, com mais de 6 mil soldados na região e que agora os temores são de que o governo do presidente Vladimir Putin resolva expandir seu controle para outras regiões da Ucrânia.
O Ministério da Defesa ucraniano disse que as forças de defesa interceptaram duas aeronaves russas que invadiram o espaço aéreo da Ucrânia na região do Mar Negro durante a noite.
Rússia acusa Ucrânia
O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, acusou hoje no Conselho de Direitos Humanos da ONU o novo governo da Ucrânia de atacar as minorias que falam russo.
"Os extremistas seguem controlando as cidades. Ao invés de cumprirem o que prometeram, criou-se um governo dos vencedores, tomaram uma decisão no parlamento para reduzir os direitos das minorias linguísticas. Eles querem castigar a língua russa, os vencedores têm a intenção de utilizar os frutos de suas vitórias para atacar os direitos humanos", disse Lavrov ao defender a instauração de unidades de autodefesa para proteger as minorias russas.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, respondeu que irá pedir a Lavrov para evitar discursos que possam aumentar a escalada de violência na Ucrânia.
Pressão diplomática
Os países ocidentais aumentavam a pressão hoje para encontrar uma saída diplomática com a Rússia, acusada pela Ucrânia de ter optado pela guerra depois que comandos pró-russos se apoderaram da Península da Crimeia.
A crise, uma das mais graves entre Moscou e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria, provocava quedas nas bolsas (a de Moscou operava em baixa de mais de 5%), assim como altas no preço do petróleo.
O secretário americano de Estado, John Kerry, anunciou que visitará Kiev amanhã, para "reiterar o forte apoio dos Estados Unidos à soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia", indicou a porta-voz do departamento de Estado, Jen Psaki, em um comunicado.
Os Estados Unidos também pediram o envio imediato à Ucrânia de observadores da Organização para a Cooperação e Segurança na Europa (OSCE) para tentar "promover o respeito da integridade territorial" desta ex-república soviética, independente desde 1991.
Putin considerou que a Rússia havia dado uma resposta totalmente adaptada à "ameaça constante de atos violentos por parte das forças ultranacionalistas" ucranianas, embora em uma conversa com a chefe de governo alemã, Angela Merkel, tenha aceitado a criação de um grupo de contato para iniciar um diálogo político sobre a Ucrânia.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, convocou a Rússia a reconsiderar, diante do que avaliou como "a maior crise na Europa no século 21".
Hague e seu colega grego, Evangelos Venizelos, cujo país ocupa a presidência rotativa da União Europeia (UE), se reunirão na terça-feira com as novas autoridades ucranianas, depois da destituição, no dia 22 de fevereiro, do presidente Viktor Yanukovytch pelo Parlamento ucraniano.
Ontem, os líderes do G-7 de países mais industrializados condenaram a clara violação da soberania da Ucrânia por parte de Moscou e anunciaram a suspensão de seus preparativos visando a cúpula do G-8 (G-7+Rússia) em Sochi (Rússia) em junho.
Rússia
A Otan pediu que Kiev e Moscou cheguem a uma "solução pacífica" da crise através do diálogo e "a mobilização de observadores internacionais", segundo seu secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen.
"A Rússia não quer a guerra com a Ucrânia", respondeu ontem o vice-chanceler russo, Grigori Karasin.
A tensão persiste na Crimeia, embora os confrontos tenham sido evitados até agora.
Escrito por Da Redação
Publicado em 03.03.2014, 09:21:00 Editado em 27.04.2020, 20:18:06
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