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Ele poderia ter me matado, diz pai de autor do massacre de Newtown

Por Isabel Fleck NOVA YORK, EUA, 10 de março (Folhapress) - Em sua primeira entrevista desde o massacre de Newtown, em dezembro de 2012, Peter Lanza, o pai do atirador Adam Lanza que matou a mãe e outras 26 pessoas, entre elas 20 crianças, em uma escol

Da Redação

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Publicado em 10.03.2014, 16:28:00 Editado em 27.04.2020, 20:17:48
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Por Isabel Fleck

NOVA YORK, EUA, 10 de março (Folhapress) - Em sua primeira entrevista desde o massacre de Newtown, em dezembro de 2012, Peter Lanza, o pai do atirador Adam Lanza que matou a mãe e outras 26 pessoas, entre elas 20 crianças, em uma escola primária, disse acreditar que o filho poderia também tê-lo matado "em um piscar de olhos".

"Vendo em retrospectiva, sei que Adam teria me matado num piscar de olhos, se ele tivesse tido a chance. Não tenho a menor dúvida. A razão de ele ter atirado em Nancy [mãe de Adam] quatro vezes foi cada um de nós: uma por ela, uma por ele, uma por Ryan [irmão] e uma por mim", disse Peter à revista "New Yorker".

O pai decidiu quebrar o silêncio de quase um ano em setembro passado, quando aceitou o pedido de entrevista da revista. Segundo ele, o objetivo era alertar outros pais que podem estar passando pelos mesmos problemas com os filhos.

"Queria que as pessoas temessem o fato de que pode acontecer com elas", disse. Para ele, esse perigo é "real". "E não precisa ser compreendido para ser real."

Ele diz pensar constantemente no que poderia ter feito diferente em relação ao filho, com quem não falava havia quase dois anos.

"Não tem como haver um mal maior", disse. "Quanto eu me culpo pelo fato de que ele era meu filho? Muito."

Peter, que recebeu o repórter da "New Yorker" seis vezes em sua casa desde setembro, afirmou ainda que "trocaria de lugar" com os pais das vítimas de Newtown se isso ajudasse em algo.

"Um familiar de uma das vítimas me disse que ele perdoava Adam depois de ter conversado comigo. Eu não sabia nem o que responder. Uma pessoa que perdeu seu filho, seu único filho", disse Peter.

Esquizofrenia

O pai acredita que Adam, diagnosticado com síndrome de Asperger (uma forma de autismo), era, na verdade, esquizofrênico.

"A síndrome de Asperger torna as pessoas diferentes, mas não as deixa assim", disse, referindo-se ao fato de Adam ter planejado o massacre. Segundo a reportagem, estudos mostram que a violência cometida por autistas é geralmente reativa, e não calculada.

Peter também acredita que Nancy, de quem estava separado desde 2001, não percebeu, nos meses anteriores ao massacre, o risco que estava correndo

"Ela nunca confidenciou à sua irmã ou à melhor amiga ter medo dele. Ela dormia com a porta do quarto destrancada, e manteve armas em casa o que ela não teria feito se estivesse com medo", disse.

Nancy dizia apenas temer "perder" o filho depois que ele demonstrou disposição de sair de casa assim que completasse 18 anos, mesmo que fosse para viver na rua.

Peter diz ter tentado várias vezes se aproximar de Adam nos últimos dois anos, mas o garoto não queria. Em alguns momentos, contudo, ele sugere que a mãe não se esforçava para colocar pai e filho juntos. O último contato entre Peter e Nancy foi justamente para negociar como seria entregue um computador que o pai tinha comprado para Adam. Ele fazia questão de entregá-lo pessoalmente ao filho. Nunca o fez.

Criança estranha

Segundo Peter, na infância, Adam era só uma "criança estranha normal". Chegou a escrever um livro com um colega em que o personagem matava crianças mas, na época, tudo foi creditado ao seu comportamento diferente. Quando entrou no ensino fundamental, no entanto, passou a demonstrar traços sociopatas.

Teve que deixar de frequentar o colégio e passou a ser educado pela mãe, em casa. Nancy também o teria ensinado a atirar.

Com o tempo, a superproteção da mãe teria afastado ainda mais o pai. Ele disse ter notado que Adam tinha perdido o interesse na relação entre os dois, mas também considerou o movimento normal, já que ele mesmo havia se afastado dos pais na adolescência. "Queria lhe dar espaço. Esperar que ele amadurecesse", disse.

Entretanto, hoje ele percebe que talvez Adam se afastou por perceber que seria "mais fácil controlar a mãe" do que o pai. Apesar de se questionar sobre o que poderia ter feito diferente, Peter acredita que não havia como prever a tragédia.

Hoje, ele, que é vice-presidente de uma subsidiária da GE, evita falar seu sobrenome nos lugares. "Até pensei em mudar de nome, mas seria como se eu estivesse me distanciando disso, e eu não posso. Não quero que isso me defina, mas mudar meu nome seria como fingir que nada aconteceu, e isso não é certo."

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