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Crânio de 12 mil anos achado no México é similar a brasileiros da época

SÃO PAULO, SP - Uma exploração arqueológica com ares cinematográficos, na qual mergulhadores vasculharam uma caverna inundada no México, acabou trazendo à tona um dos mais antigos esqueletos humanos das Américas, o de uma adolescente morta há cerca de 12

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 15.05.2014, 18:39:00 Editado em 27.04.2020, 20:14:41
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SÃO PAULO, SP - Uma exploração arqueológica com ares cinematográficos, na qual mergulhadores vasculharam uma caverna inundada no México, acabou trazendo à tona um dos mais antigos esqueletos humanos das Américas, o de uma adolescente morta há cerca de 12 mil anos. Embora o crânio dela tenha traços "africanos", como os do famoso esqueleto brasileiro conhecido como Luzia, uma análise preliminar de DNA mostrou ligações genéticas entre a garota e os indígenas atuais.

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O achado, descrito na revista especializada "Science" por uma equipe de cientistas americanos e mexicanos, volta a colocar lenha na fogueira de um campo de pesquisa já naturalmente controverso. Os autores da pesquisa dizem que os dados de DNA favorecem a hipótese de que apenas uma população humana da Ásia contribuiu para o povoamento das Américas, ideia contestada pelo principal especialista brasileiro no tema, Walter Neves, da USP.

Como é frequente no que diz respeito a descobertas arqueológicas, tudo começou por acaso. O mergulhador profissional Alberto Nava, que mora na Califórnia, estava explorando as águas da caverna com dois colegas mexicanos quando se deu conta de que, após um túnel relativamente estreito, ela se abria e formava um salão inundado de 60 metros de diâmetro, apelidado pela equipe de mergulho de Hoyo Negro, ou "buraco negro".

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No fundo do abismo, podiam ser divisados ossos de grandes mamíferos - feras extintas, como dentes-de-sabre e mastodontes, morreram presas lá - e um crânio humano. Era a caveira da menina, mais tarde apelidada pelos pesquisadores de Naia (referência às náiades, ninfas aquáticas da mitologia grega).

Morta em torno dos 15 anos de idade, Naia tinha ossatura delicada e menos de 1,50 m de altura - curiosamente, a brasileira Luzia, mais ou menos contemporânea do esqueleto, também tinha essa compleição "mignon". Os especialistas acreditam que ela tenha caído na caverna enquanto procurava água, talvez morrendo na hora com a queda. Mais tarde, a subida do nível do mar com o fim da Era do Gelo inundou a gruta, que está perto da costa.

A análise da anatomia do esqueleto, conduzida pelo antropólogo forense americano James Chatters, da empresa Applied Paleoscience, deixou clara a semelhança entre Naia e os demais paleoamericanos, como são conhecidos os primeiros habitantes do continente (que viveram até uns 8.000 anos atrás).

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Os traços, que lembram os de africanos e aborígines australianos, são usados como argumento por quem defende que as Américas foram povoadas por pelo menos duas ondas migratórias distintas - a segunda corresponderia aos ancestrais dos índios de hoje, com traços mais "mongólicos" - típicos dos habitantes atuais do Extremo Oriente.

No entanto, ao extrair mtDNA (DNA mitocondrial, uma pequena parcela do material genético, só transmitida pela linhagem materna) do esqueleto mexicano, os cientistas identificaram o chamado haplogrupo D1, presente em mais de 10% dos índios de hoje.

"Assim, Naia não representa uma migração anterior, vinda de uma parte do mundo diferente do lugar de origem dos ameríndios atuais. Tanto ela quanto eles vêm do mesmo lar ancestral", declarou Chatters em entrevista coletiva. Esse lugar seria a região entre a Sibéria e o atual Alasca, a chamada Beríngia, parte da qual foi engolida pelo mar no fim da Era do Gelo.

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Ao longo do tempo, outros processos evolutivos, ainda pouco conhecidos, poderiam ter alterado a morfologia dos paleoamericanos para o padrão visto hoje, propõe o grupo.

Walter Neves, paleoantropólogo da USP, diz não estar convencido pelas conclusões do trabalho.

"Primeiro, o nosso modelo [de duas migrações] também é via Beríngia", ressalta ele. A ideia é que um primeiro grupo oriundo da Sibéria teria a morfologia paleoamericana, recebendo mais tarde o aporte genético de um novo grupo "mongólico".

"É difícil acreditar nas informações da biologia molecular, a cada trabalho eles dizem uma coisa. Não faz muito tempo, outro genoma paleoamericano supostamente indicava uma herança dual", aponta. "Não vejo por que o mtDNA e a forma craniana teriam de concordar, porque são duas heranças genéticas totalmente distintas. Seria muito importante obter o genoma completo desse esqueleto e de outros", diz Neves. A equipe de Chatters diz que esse, de fato, é um de seus próximos objetivos.

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