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Peritos da USP abandonam trabalho de identificação de ossadas

Por Felipe Amorim SÃO PAULO, SP, 2 de março (Folhapress) - Uma equipe de peritos em antropologia forense da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto decidiu abandonar o grupo criado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos para identificar

Da Redação

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Publicado em 02.03.2014, 12:01:00 Editado em 27.04.2020, 20:18:08
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Por Felipe Amorim

SÃO PAULO, SP, 2 de março (Folhapress) - Uma equipe de peritos em antropologia forense da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto decidiu abandonar o grupo criado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos para identificar as ossadas encontradas na vala clandestina do cemitério Dom Bosco, em Perus, zona norte de São Paulo.

Os restos mortais foram encontrados em 1990. Das 1.049 ossadas, restam 1.028 a serem analisadas para descobrir se são de desaparecidos políticos da época da ditadura militar (1964-1985).

Não há uma estimativa precisa sobre quantos desaparecidos podem ter sido enterrados em Perus, que possivelmente recebia também corpos de indigentes e de vítimas de esquadrões da morte. Até 2006, sete ossadas foram identificadas como sendo de mortos pela ditadura.

O professor de medicina legal da USP, Marco Aurélio Guimarães, afirmou que o grupo tomou a decisão por discordar da metodologia proposta para as perícias e por não ter sido incluído no processo de definição desta metodologia.

Segundo ele, o cronograma enviado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos diz que a lavagem dos ossos deverá ocorrer no mesmo período dos exames periciais. Para ele, lavar os ossos antes de coletar material pode inviabilizar o exame de DNA a água destrói células ósseas.

O cronograma, ainda segundo Guimarães, não aponta quando serão feitas as perícias para analisar a existência de lesões nos ossos, que podem ajudar a determinar a identidade ou a causa da morte, nem as de odontologia forense (identificação por meio da arcada dentária).

"Tentamos questionar que a metodologia nos parecia absurda. Recusamos [a participação] e tiramos a equipe de atividade", disse. A lavagem é usada para facilitar identificação de lesões e medição dos ossos, processo que ajuda a determinar sexo e idade do morto.

Sem definição

O assessor da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Gilles Gomes, que coordena a CEMDP (Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos), disse que o método das perícias ainda não foi definido e que, portanto, não há nada que sustente a preocupação do grupo da USP.

"Vamos definir com os profissionais envolvidos quais serão os melhores processos [periciais] para esse caso." Segundo Gomes, o cronograma citado por Guimarães é só uma proposta de trabalho que ainda deve ser confirmada a partir da colaboração de outras instituições e que técnicas de patologia (análise de lesões) e odontologia forense serão utilizadas.

A Secretaria Nacional de Direitos Humanos espera que o protocolo com a definição dos procedimentos esteja pronto na primeira quinzena de março. Após a definição, será submetido à aprovação das entidades.

Peritos internacionais também foram convidados a participar da identificação. José Pablo Baraybar, diretor-executivo da Epaf (Equipe Peruana de Antropologia Forense), disse que a lavagem das ossadas não prejudica a análise do material genético, pois são usadas partes internas de dentes ou ossos para a extração do DNA.

Designado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos para sistematizar sugestões técnicas de um grupo que tem órgãos como Polícia Federal e Ministério da Justiça, Gilles Gomes disse que não está definida a metodologia do trabalho.

"Os protocolos não estão prontos ainda. A proposta será entregue ao grupo para comentários e sugestões." Segundo Gomes, o protocolo adotado pelo laboratório da USP, enviado como sugestão por Guimarães, será incorporado à metodologia.

"Pela primeira vez o Estado enfrenta isso da forma devida, para que possa num futuro próximo dizer que todos os desaparecidos políticos foram identificados." A Secretaria Nacional de Direitos Humanos já reconheceu 362 casos de mortos e desaparecidos políticos relacionados à ditadura, de 475 pedidos feitos.

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