Apesar dos ajustes feitos pela presidente Dilma Rousseff na articulação do governo, da inclusão do vice-presidente Michel Temer no núcleo duro do Planalto e das promessas de liberar a indicação para novos cargos, o PMDB emite sinais de que permanecerá na estratégia de “sangrar” Dilma e o PT.
A estratégia tem como objetivo impedir que a crise de imagem, que hoje tem como alvo a presidente e seu partido, mude de foco e acabe envolvendo o Congresso e os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ambos investigados por suposto envolvimento no esquema desmantelado pela Operação Lava Jato. A possível nomeação do ex-presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),para o Ministério do Turismo é mais um capítulo das dificuldades enfrentadas pelo governo na relação com o PMDB. Dada como certa no fim da semana passada, a ida de Alves para a pasta virou alvo de novas especulações por conta da demora da presidente em formalizar a nomeação.
Da parte do Planalto, interlocutores passaram a considerar a nomeação insuficiente para ter o PMDB como aliado nas votações no Congresso, principalmente em relação às medidas fiscais. Um final de semana foi o suficiente para que os membros do maior partido aliado do Planalto passassem da expectativa da nomeação, na sexta-feira, para o discurso de negação do desejo pelo cargo, que mais se ouviu na segunda-feira.
A demora em anunciar Alves no Turismo tem motivo na incerteza sobre os efeitos políticos da nomeação. Além de esperar um sinal de apoio nas votações, que não chegou a acontecer, a presidente teria avaliado que dar o Turismo a Henrique nada agregaria. Pior, poderia contribuir para desagradar, ainda mais, ao PMDB do Senado, já que desalojaria da pasta um apadrinhado do presidente da Casa, Renan Calheiros. Além disso, nos bastidores, alguns peemedebistas avaliam que a própria sobrevivência política de Cunha e Renan depende do embate com o Planalto. Entre integrantes da sigla aliada, é comum a avaliação de que interessa mais às duas maiores lideranças do partido no Congresso que a crise de imagem devido às denúncias de corrupção tenha como alvo a presidente Dilma, apesar de Cunha e Renan serem alvo das investigações. É comum também no PMDB a defesa da estratégia de “sangrar” Dilma e o PT, obtendo, desta forma, a aprovação ou a complacência das ruas.
Outro fator que continua pesando na difícil relação do PMDB com o Planalto é a demora nas definições em relação aos cargos de segundo escalão. Na semana passada, Dilma teria oferecido como recompensa a Renan, diante da troca no Turismo, o controle da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), prontamente recusada pelo presidente do Senado.
A insatisfação de Renan ainda tem como motivo a recusa de Dilma em dar a ele a prerrogativa de voltar a indicar o presidente da Transpetro. Até o ano passado, a subsidiária da Petrobras era comandada por Sérgio Machado, apadrinhado de Renan. Machado deixou a empresa após as investigações que apontam seu envolvimento com o esquema investigado. Pautas da oposição Na intenção de criar constrangimentos ao governo, o PMDB tem se dedicado a defender semanalmente pautas que encontram repercussão nas manifestações de rua e que são contrárias às ideias defendidas pela presidente Dilma, inclusive na campanha do ano passado.
Autoria/fonte: Luciana Lima | iG Brasília
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